A Relíquia

Nonfiction, Religion & Spirituality, New Age, History, Fiction & Literature
Cover of the book A Relíquia by José Maria Eça de Queirós, Library of Alexandria
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Author: José Maria Eça de Queirós ISBN: 9781465569752
Publisher: Library of Alexandria Publication: March 8, 2015
Imprint: Language: Portuguese
Author: José Maria Eça de Queirós
ISBN: 9781465569752
Publisher: Library of Alexandria
Publication: March 8, 2015
Imprint:
Language: Portuguese
Decidi compôr, nos vagares d'este verão, na minha quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Landoso) as memorias da minha Vida—que n'este seculo, tão consumido pelas incertezas da Intelligencia e tão angustiado pelos tormentos do Dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Chrispim, uma lição lucida e forte. Em 1875, nas vesperas de Santo Antonio, uma desillusão de incomparavel amargura abalou o meu sêr: por esse tempo minha tia D. Patrocinio das Neves mandou-me do Campo de Sant'Anna, onde moravamos, em romagem a Jerusalem: dentro d'essas santas muralhas, n'um dia abrazado do mez de Nizam, sendo Poncius Pilatus procurador da Judêa, Elius Lamma legado imperial da Syria e J. Kaiapha Summo Pontifice testemunhei, miraculosamente, escandalosos successos: depois voltei—e uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral. São estes casos—espaçados e altos n'uma existencia de bacharel como, em campo de herva ceifada, fortes e ramalhosos sobreiros cheios de sol e murmurio—que quero traçar, com sobriedade e com sinceridade, emquanto no meu telhado voam as andorinhas, e as moitas de cravos vermelhos perfumam o meu pomar. Esta jornada á terra do Egypto e á Palestina permanecerá sempre como a gloria superior da minha carreira; e bem desejaria que d'ella ficasse nas Lettras, para a Posteridade, um monumento airoso e macisso. Mas hoje, escrevendo por motivos peculiarmente espirituaes, pretendi que as paginas intimas em que a relembro se não assemelhassem a um Guia Pittoresco do Oriente. Por isso (apesar das solicitações da vaidade) supprimi n'este manuscripto succulentas, resplandecentes narrativas de Ruinas e de Costumes… De resto esse paiz do Evangelho, que tanto fascina a humanidade sensivel, é bem menos interessante que o meu sêcco e paterno Alemtejo: nem me parece que as terras favorecidas por uma presença Messianica ganhem jámais em graça ou esplendor. Nunca me foi dado percorrer os Lugares Santos da India em que o Budha viveu—arvoredos de Migadaia, outeiros de Veluvana, ou esse dôce valle de Rajagria por onde se alongavam os olhos adoraveis do Mestre perfeito quando um fogo rebentou nos juncaes, e Elle ensinou, em singela parabola, como a Ignorancia é uma fogueira que devora o homem—alimentada pelas enganosas sensações de Vida que os sentidos recebem das enganosas apparencias do Mundo. Tambem não visitei a caverna d'Hira, nem os devotos areaes entre Meca e Medina que tantas vezes trilhou Mahomet, o Propheta Excellente, lento e pensativo sobre o seu dromedario. Mas, desde as figueiras de Bethania até ás aguas caladas de Galilêa, conheço bem os sitios onde habitou esse outro Intermediario divino, cheio de enternecimento e de sonhos, a quem chamamos Jesus-Nosso-Senhor:—e só n'elles achei bruteza, seccura, sordidez, soledade e entulho
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Decidi compôr, nos vagares d'este verão, na minha quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Landoso) as memorias da minha Vida—que n'este seculo, tão consumido pelas incertezas da Intelligencia e tão angustiado pelos tormentos do Dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Chrispim, uma lição lucida e forte. Em 1875, nas vesperas de Santo Antonio, uma desillusão de incomparavel amargura abalou o meu sêr: por esse tempo minha tia D. Patrocinio das Neves mandou-me do Campo de Sant'Anna, onde moravamos, em romagem a Jerusalem: dentro d'essas santas muralhas, n'um dia abrazado do mez de Nizam, sendo Poncius Pilatus procurador da Judêa, Elius Lamma legado imperial da Syria e J. Kaiapha Summo Pontifice testemunhei, miraculosamente, escandalosos successos: depois voltei—e uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral. São estes casos—espaçados e altos n'uma existencia de bacharel como, em campo de herva ceifada, fortes e ramalhosos sobreiros cheios de sol e murmurio—que quero traçar, com sobriedade e com sinceridade, emquanto no meu telhado voam as andorinhas, e as moitas de cravos vermelhos perfumam o meu pomar. Esta jornada á terra do Egypto e á Palestina permanecerá sempre como a gloria superior da minha carreira; e bem desejaria que d'ella ficasse nas Lettras, para a Posteridade, um monumento airoso e macisso. Mas hoje, escrevendo por motivos peculiarmente espirituaes, pretendi que as paginas intimas em que a relembro se não assemelhassem a um Guia Pittoresco do Oriente. Por isso (apesar das solicitações da vaidade) supprimi n'este manuscripto succulentas, resplandecentes narrativas de Ruinas e de Costumes… De resto esse paiz do Evangelho, que tanto fascina a humanidade sensivel, é bem menos interessante que o meu sêcco e paterno Alemtejo: nem me parece que as terras favorecidas por uma presença Messianica ganhem jámais em graça ou esplendor. Nunca me foi dado percorrer os Lugares Santos da India em que o Budha viveu—arvoredos de Migadaia, outeiros de Veluvana, ou esse dôce valle de Rajagria por onde se alongavam os olhos adoraveis do Mestre perfeito quando um fogo rebentou nos juncaes, e Elle ensinou, em singela parabola, como a Ignorancia é uma fogueira que devora o homem—alimentada pelas enganosas sensações de Vida que os sentidos recebem das enganosas apparencias do Mundo. Tambem não visitei a caverna d'Hira, nem os devotos areaes entre Meca e Medina que tantas vezes trilhou Mahomet, o Propheta Excellente, lento e pensativo sobre o seu dromedario. Mas, desde as figueiras de Bethania até ás aguas caladas de Galilêa, conheço bem os sitios onde habitou esse outro Intermediario divino, cheio de enternecimento e de sonhos, a quem chamamos Jesus-Nosso-Senhor:—e só n'elles achei bruteza, seccura, sordidez, soledade e entulho

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